Atleta paralímpico de levantamento de peso, Bruno nunca deixou que a acondroplasia limitasse suas ambições. Natural de Salto, cidade do interior do Brasil, ele recebeu o diagnóstico ainda bebê, e desde então, sua jornada tem sido marcada pela determinação e superação por meio do esporte, em conquistas que lhe renderam dezenas de medalhas.
Bruno Carra: Força e Determinação, Dentro e Fora do Esporte
Bruno Carra, 35 anos, atleta paralímpico de levantamento de peso, nunca deixou que a acondroplasia limitasse suas ambições. Natural de Salto, interior de São Paulo, ele recebeu o diagnóstico ainda bebê, e desde então, sua jornada tem sido marcada pela determinação e pelo apoio familiar. “Quando eu nasci, o médico olhou para mim e falou para minha mãe que não sabia o que eu tinha. Eu era um bebê normal, mas alguma coisa estava diferente no meu corpo”, relembra Bruno sobre os primeiros momentos após o nascimento.
A infância e a base familiar forte
Durante a infância, Bruno enfrentou o preconceito e as dificuldades típicas de quem nasce com nanismo. “Sempre fui muito instruído pela minha família e pela minha fé a não me importar com o que as pessoas que não gostam de mim pensam. Graças a Deus, eu sempre tive muitos amigos e nunca me deixei abalar pelos comentários maldosos”, conta.
Apesar dos desafios que surgiram na escola, como as chacotas de colegas, Bruno manteve sua confiança graças à estrutura familiar sólida. “Tive esse primeiro contato com preconceito na escola, mas nunca me importei muito. Sempre tive muitos amigos e nunca liguei para o que as pessoas falavam de mim”, afirma ele, destacando a importância de nunca deixar que as críticas o derrubassem.
Superação por meio do esporte
Aos 13 anos, Bruno, que sofria de dores articulares e tinha dificuldades para andar por longos períodos, encontrou no esporte uma nova perspectiva de vida. Ele começou a frequentar a academia do primo, mesmo contra as orientações médicas. “Meu ortopedista era contra eu fazer musculação, mas sentia que precisava fazer algo para melhorar minha qualidade de vida. Então, comecei a treinar escondido”, relembra.
Com o passar do tempo, Bruno percebeu uma melhora significativa em sua condição física. “Antes, eu não conseguia andar por mais de 30 minutos sem sentir dores nas pernas. Mas, depois de um tempo treinando, minha qualidade de vida melhorou muito. Quando voltei ao médico, ele ficou surpreso com a melhora e eu acabei contando que estava fazendo musculação”, conta.
Esse foi o início de uma trajetória que o levaria a se tornar um dos maiores atletas paralímpicos do Brasil. “Eu conheci o movimento paralímpico pelas redes sociais e me apaixonei. Em 2010, fui campeão brasileiro de levantamento de peso pela primeira vez e venho mantendo o título. Hoje, tenho três recordes nacionais”, destaca Bruno.
Conquistas no cenário internacional
Bruno também competiu em diversas competições internacionais, como os Jogos Pan-Americanos e Paralímpicos. “Minha primeira competição internacional foi em 2011, nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara. Foi uma experiência marcante, porque nos Jogos você sente que está representando algo muito maior, a nação inteira”, comenta ele, orgulhoso das medalhas de prata e ouro conquistadas em competições internacionais.
Além disso, ele destaca sua participação nas Paralimpíadas de Londres, em 2012, e no Rio, em 2016, como momentos memoráveis de sua carreira. “Competir em casa, no Rio, foi algo indescritível. Ter minha família inteira me assistindo foi incrível. Pude mostrar para o Brasil o que é o esporte paralímpico e como ele pode inspirar outras pessoas com deficiência”, reflete Bruno.
Uma vida além do esporte
Além de atleta, Bruno também se formou em Engenharia da Computação e está concluindo um mestrado em Inteligência Artificial na Unicamp. “Eu sempre acreditei que nossa deficiência não nos limita em nada. Podemos estudar, trabalhar e correr atrás dos nossos sonhos como qualquer outra pessoa”, afirma ele, com a mesma determinação que o levou a conquistar seus títulos no esporte.
Bruno também é grato pelo apoio de sua esposa, que o acompanha desde o início da carreira de atleta. “Se tem alguém a quem devo tudo o que conquistei, é minha esposa. Ela sempre esteve ao meu lado, cuidando da minha alimentação, dos treinos, de tudo. Sou muito grato por ter ela na minha vida.”
Mensagem de força e inspiração
Hoje, Bruno segue focado em seus próximos desafios no esporte, com o objetivo de competir nos Jogos de Los Angeles em 2028. “Meu sonho é conquistar uma medalha de ouro nas Paralimpíadas. Vou trabalhar muito duro para isso.”
Para aqueles que enfrentam preconceitos ou limitações, Bruno deixa uma mensagem clara: “Nunca acredite que a deficiência limita você. Se você tiver fé, apoio e correr atrás dos seus sonhos, pode alcançar qualquer coisa. O importante é não esperar que as coisas caiam do céu. Corra atrás e faça por você.”
Fernanda nunca deixou que a acondroplasia definisse quem ela é. Com o apoio da família, ela deixou a pequena cidade mineira de Campo Belo para ir morar em São Paulo e realizar o seu sonho: cursar medicina. Foi ali que enfrentou seus maiores desafios e conquistou as maiores vitórias.
Rompendo fronteiras para ganhar o mundo
Fernanda Fonseca sempre soube que a acondroplasia fazia parte de sua história, mas nunca deixou que isso definisse quem ela é. Nascida em Campo Belo, Minas Gerais, a descoberta de sua condição foi feita logo após o nascimento, embora sinais já fossem observados no final da gestação. “Não temos histórico familiar de acondroplasia. Foi realmente uma mutação ao acaso”, explica Fernanda, que desde cedo passou por diversas consultas médicas e acompanhamentos, mas sem grandes complicações que afetassem seu desenvolvimento.
Infância em um ambiente familiar acolhedor
Na pequena cidade de Campo Belo, Fernanda cresceu cercada por amigos e familiares que já a conheciam desde a infância. Ela estudou por muitos anos na mesma escola, onde todos estavam familiarizados com sua condição. “Vivia em uma bolha, sempre com as mesmas pessoas. Eu era a Fernanda pequenininha e isso nunca foi uma questão ali”, relembra. A mudança para São Paulo, no entanto, trouxe novos desafios e a necessidade de lidar com olhares e preconceitos que ela nunca tinha enfrentado.
O grande salto para São Paulo
Aos 17 anos, Fernanda se mudou para São Paulo para cursar medicina, realizando dois dos maiores sonhos de sua vida: morar na capital paulista e se tornar médica. “Sempre quis ser médica, desde que me lembro. Foi incrível conquistar isso, mas também foi um choque de realidade. De repente, eu estava em um ambiente onde ninguém me conhecia e precisei lidar com preconceitos velados”, conta. A faculdade de medicina foi exigente, mas também trouxe amigos que se tornaram parte importante de sua jornada.
Ao longo da vida, Fernanda passou por diversas adaptações físicas. Em casa, seu pai sempre se preocupou em adaptar a mobília para facilitar sua rotina. No entanto, os desafios aumentaram com o tempo. “Na escola, eu era sempre a primeira da fila e precisavam ajustar coisas para mim, como a altura da cadeira”, conta. Além disso, Fernanda enfrentou problemas respiratórios comuns em pessoas com acondroplasia, passando por cirurgias para remover amígdalas e adenoides. “Isso é bem comum na nossa condição por causa do formato do trato respiratório”, explica.
Conquistas e novos horizontes
Atualmente com 28 anos, Fernanda atua como médica generalista, mas ainda planeja se especializar. “Cinco anos depois de formada, ainda estou enrolando para decidir em qual área me especializar. Ainda estou em dúvida”, brinca. Recentemente, realizou outro grande sonho: viajar pela Europa. “Visitei Londres, Amsterdã, Berlim… Foi uma viagem incrível. Sempre sonhei em conhecer o mundo e essa foi a primeira de muitas. Agora, quero explorar ainda mais, especialmente a Ásia”, revela.
Uma mensagem de resiliência e autonomia
Para Fernanda, a experiência de viver com acondroplasia lhe ensinou muito sobre a importância da autonomia. Ela destaca o papel essencial de sua família em seu desenvolvimento. “Meus pais sempre exigiram de mim o máximo, como fariam com qualquer outra pessoa. Eles me ensinaram a ser responsável e a buscar a minha independência”, conta. Hoje, Fernanda também é uma voz ativa no Instituto Nacional de Nanismo, onde apoia outras pessoas a enfrentarem os desafios da condição e buscarem uma vida plena e independente.
“O nanismo é apenas uma das minhas características. Eu sou uma mulher, sou médica, gosto de viajar, tenho uma vida como qualquer outra pessoa“, afirma Fernanda.
Ela acredita que muitas pessoas com nanismo enfrentam barreiras por não terem sido estimuladas desde cedo a serem independentes, e vê nisso um grande obstáculo para sua autonomia. “A maior parte das pessoas que conheço que tem nanismo lida bem com isso, mas é triste ver quem não teve essa chance e foi podado.”
Para o futuro, Fernanda deseja continuar explorando o mundo e ajudando outros a entenderem que a acondroplasia não define quem ela é. “Quero mostrar que podemos ir além dos desafios físicos e viver plenamente”, finaliza.
Morador de Córdoba, na Argentina, Leandro sempre se deu bem com os amigos e amigas da escola, com quem costuma gravar vídeos e postar em suas redes sociais. No futuro, até imagina ser um influenciador digital – ou um engenheiro, como diz. Quando encontra qualquer obstáculo na vida, com a ajuda de sua mãe, Martina, ele se vira para superá-lo.
Amor e Coragem, de Mãe para Filho
Quando Martina Garzón, 44 anos, estava no sexto mês de gravidez, descobriu que seu filho, Leandro, tinha acondroplasia. Em um dos ultrassons que fazia regularmente para acompanhar o desenvolvimento do bebê, os médicos perceberam que a medida dos braços e pernas estava abaixo do padrão.
No início, ela teve medo do que poderia ser o futuro da família e contou com o conhecimento e experiência da mãe como pediatra para longas conversas sobre a condição do filho. Ao procurar informações, se deparou com manuais e cartilhas médicas na internet que tratavam a displasia de forma muito alarmista, o que contribuiu para intensificar seu sentimento de medo e agravou a sua apreensão diante da situação.
Aos poucos, Martina conversou com outras famílias que tinham pessoas com acondroplasia para entender melhor o que era conviver com essa condição. Como forma de apoio, frequentou sessões de terapia a fim de oferecer ao filho uma segurança que lhe garantisse autoestima para lidar da melhor maneira com os desafios. Sem rodeios, quando Leandro tinha 5 anos, ela explicou ao filho a sua condição. Disse que ele teria uma estatura mais baixa do que os amigos e amigas e que havia alternativas para que a vida corresse normalmente. “Ele cresceu ciente disso. Não gosto de tratá-lo com pena. Tento promover a independência nele, respeitando seu corpo, sua personalidade.”
Os primeiros desafios
Em sua infância, devido a infecções no ouvido, Leandro teve que passar por uma cirurgia simples para colocar pequenos drenos que facilitam a entrada de ar e aliviam dores recorrentes. Essa foi a única intervenção cirúrgica a qual ele se submeteu até hoje. Na casa onde moram, em Córdoba, na Argentina, Martina cuidou de pequenas adaptações, como no vaso do banheiro, a fim de adequá-lo à sua altura, embora sempre reforce que estimula o filho a buscar alternativas para os desafios da rotina.
Por isso, quando Leandro está diante de um obstáculo, ele mesmo diz que “se vira do jeito que dá”, seja pegando um banquinho, uma cadeira ou usando outros objetos para alcançar coisas no alto. Às vezes, ele diz, é alvo do preconceito de pessoas na rua, que questionam ou fazem comentários sobre sua estatura: “Eu não estou nem aí, mostro a língua para eles, pergunto o que estão olhando”.
Com acompanhamento médico e o olhar atento de seu pai, professor de educação física, Leandro faz treinos funcionais e fisioterapia como forma de aprimorar o fortalecimento dos músculos, a postura e o equilíbrio. A prática, com o tempo, deixou de ser uma obrigação e passou a ser uma atividade que Leandro desempenha com prazer. Ele diz que gosta de treinar e se sente bem na academia.
Conquistas: boxe e violino
Hoje, Leandro está com 14 anos. E, além de se exercitar na academia, começou a fazer aulas de boxe, uma paixão que veio com a adolescência, assim como as horas que passa nas redes sociais postando vídeos em seus canais com amigos e amigas. Até os 10 anos, no entanto, sua preferência era pela música.
Uma de suas maiores conquistas – da qual Martina se orgulha ao recordar – foi tocar violino em apresentações anuais no famoso Teatro San Martín, em Córdoba, na Argentina. Leandro usava um instrumento menor, adaptado para o tamanho de seus braços, e enchia a mãe de alegria tocando música clássica para uma plateia enorme. Com o método Suzuki de aprendizado, ele foi capaz de desenvolver habilidades musicais que contribuíram para o desenvolvimento motor, emocional e intelectual.
Sonhos e planos para o futuro
“Ele sempre foi uma criança que fez boas relações com professores e colegas na escola, desde a creche”, diz Martina. Quando cursava a sexta série, não estava indo muito bem na escola e prometeu para sua mãe que iria se esforçar para receber uma menção honrosa. Deu certo. “Consegui obter notas melhores e deixei minha mãe muito feliz”, Leandro lembra do momento como uma importante conquista em sua vida.
Ao olhar para o futuro, sonha um dia em ser engenheiro ou, ele mesmo brinca, um influenciador digital, postando vídeos com os amigos nas redes sociais. Diz com segurança que “o que faz uma pessoa inferior ou superior é o que ela leva por dentro. Não deixo isso atrapalhar a minha vida”.
Natural do Uruguai, Nina é uma menina cheia de curiosidade e energia. Ama música, patinar e está sempre descobrindo coisas novas. Sua relação com o pai, Luciano, é um sinônimo de afeto e companheirismo, que passa pela paixão pela música como uma forma de fortalecer ainda mais o vínculo entre eles.
Luciano e Nina: uma jornada de amor, lutas e conquistas
Luciano é pai de dois filhos: Julián, de 12 anos, que nasceu com síndrome de Down, e Nina, de 10 anos, diagnosticada com acondroplasia. Quando soube, ainda durante a gestação, que algo no desenvolvimento de Nina não estava seguindo o esperado, ele e sua esposa já tinham alguma experiência com a condição de Julián, mas o diagnóstico de acondroplasia foi inesperado. “Foi uma baita surpresa. A gente achava que seria algo semelhante ao que já havíamos enfrentado com o Julián, mas o diagnóstico de acondroplasia foi um choque”, relembra Luciano.
A jornada de Luciano ao lado de Nina ganhou uma nova dimensão após o falecimento de sua esposa, quando Nina tinha apenas 5 anos. “Perder a mãe deles foi devastador, principalmente para a Nina, que era tão pequena. Tive que seguir em frente por eles, e isso nos uniu ainda mais.”
A luta pelo bem-estar de Nina
Nos últimos anos, Luciano e Nina passaram por muitas batalhas em busca de melhorar a qualidade de vida dela. Ele enfrentou desafios para garantir que Nina tivesse acesso a cuidados que pudessem proporcionar mais conforto e evitar complicações no futuro. “Foi uma luta dura, cheia de incertezas. Mas ver os avanços que ela teve, e o quanto isso a ajudou, me dá a certeza de que valeu a pena,” conta ele.
Conexão por meio das notas musicais
Além dos desafios médicos, Luciano encontrou na música uma forma de fortalecer o vínculo com Nina. “A música tem um lugar central na nossa vida. Eu toco com a Nina, ajudo ela a estudar violino e passamos muito tempo juntos praticando. Isso nos aproximou ainda mais”, comenta Luciano. Para ele, a música é um refúgio e uma maneira de aliviar os desafios do dia a dia.
Desafios e esperança para o futuro
Apesar dos avanços, Luciano mantém os pés no chão quanto ao futuro de Nina. “Ela vai ser uma pessoa de estatura baixa, e vai enfrentar muitos desafios. A nossa sociedade não é fácil para quem tem a condição dela, mas o importante é que ela tenha uma infância plena e seja feliz”, reflete. Ele acredita que os cuidados que Nina vem recebendo têm proporcionado uma melhor qualidade de vida, mas a força que ela desenvolveu desde pequena será fundamental para superar as dificuldades que ainda virão.
“Ela vai ter que ser forte. Nossa sociedade é complicada, e ela vai precisar de muita garra para enfrentar o que vem pela frente. Mas estarei ao lado dela, sempre.”
Nina, apesar de sua condição, é uma criança cheia de curiosidade e energia. “Ela ama música, patinar e está sempre descobrindo coisas novas. Mesmo com todas as dificuldades, ela se desenvolve de uma maneira incrível”, diz Luciano, cheio de orgulho. Além disso, a relação de Nina com Julián é um exemplo de companheirismo. “Ela tem um respeito enorme pelo irmão e o ajuda muito. Eles têm uma conexão incrível, muitas vezes ela o entende melhor do que eu”, revela o pai.
Além de atuar como músico, Luciano faz parte de uma associação de acondroplasia no Uruguai, composta principalmente por pais e mães de crianças com a condição. Embora pequena, a associação desempenha um papel importante em organizar informações e dar suporte às famílias que enfrentam o diagnóstico. “Queremos dar visibilidade à acondroplasia e ajudar outros pais a compreenderem o que enfrentarão,” finaliza Luciano.
Natural de Saltillo, Cynthia Molano é uma ativista que tem dedicado a vida à inclusão de pessoas com acondroplasia no México e na América Latina. Com uma trajetória marcada pela superação e luta pelos direitos das pessoas com deficiência, ela foi a primeira mulher de baixa estatura a se candidatar como deputada federal no país e é uma voz ativa na criação de leis e iniciativas que ampliam a acessibilidade e combatem o preconceito.
Potência que não se mede
Cynthia Molano é uma figura expressiva em todo o México na luta pelos direitos e inclusão de pessoas com acondroplasia. Com 39 anos, a ativista, que milita pela causa desde 2015, é originária de Saltillo, estado de Coahuila, que dista 843 km de Cidade do México, capital do país. Em quase uma década de militância, Cynthia atuou de forma extraordinária pela visibilidade da causa de pessoas com acondroplasia e da inclusão no México, feitos que cruzaram, inclusive, fronteiras, repercutindo positivamente em países da América Latina, como Argentina e Bolívia. Ela mesma é uma pessoa com acondroplasia, embora até os 29 anos tenha negado a própria condição.
Na juventude, frequentou congressos nos Estados Unidos, conheceu pessoas com a mesma condição que a sua, algumas, inclusive, tinham se submetido a cirurgias dolorosas que objetivavam “esticar” as pernas, dando centímetros a mais a indivíduos com algum tipo de nanismo. O que ela via era dor e exclusão até então. Não queria isso para si. Seguia a vida, embora se perguntasse: “Por que eu?”, “Por que logo comigo?”.
Um dia, movida pelo desejo de ser mãe e mais madura, Cynthia se sentiu impelida a mudar. Primeiro veio a própria aceitação, depois um forte desejo de lutar pelos direitos das pessoas com deficiência, especialmente aquelas com condições semelhantes às dela. Foi então que, em 2016, fundou a Gente Pequeña em Coahuila, associação que trabalha em prol dos direitos e inclusão de pessoas com baixa estatura, que preside até hoje.
Mas Cynthia foi além: foi a primeira mulher de baixa estatura a ser candidata a deputada federal no México. Em 2018, concorreu como deputada federal suplente pelo quarto distrito de Coahuila, tendo êxito na empreitada. O desejo de lutar pela causa por meio da política surgiu quando, um dia, Cynthia fora abordada por uma menina com acondroplasia no hospital de tratamento para câncer infantil em que atuava como voluntária. Ao ver uma pessoa com a mesma condição atuando de forma potente e empoderada, a menina se sentiu representada. As duas conversaram, Cynthia ficou tocada e decidiu abraçar ainda mais a causa das pessoas que, assim como ela, conviviam com a acondroplasia.
No mandato como deputada federal suplente, Cynthia elaborou, apoiou a proposição e teve aprovada em Coahuila a Lei do Degrau Universal (Ley del Escalón Universal), que se refere a diretrizes de acessibilidade em espaços públicos e privados, garantindo que o projeto e execução de escadas e rampas seja inclusivo para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, reforçando a necessidade de um desenho universal para as cidades. Hoje, a Lei do Degrau Universal é replicada tanto na Bolívia quanto na Argentina.
Cynthia também foi uma das responsáveis pela fundação da Federação Mexicana de Pessoas de Estatura Baixa (Federación Mexicana de Personas de Talla Pequeña), além de propor e ajudar a estabelecer o 25 de outubro, Dia Mundial de Pessoas de Baixa Estatura (Día Mundial de las Personas de Talla Baja). Ainda, a ativista colaborou com a criação do primeiro museu inclusivo para pessoas de baixa estatura no México, o El Desierto, em Saltillo. Por lá impera o desenho universal inclusivo de espaços, o que estimula consciência, maior compreensão sobre a diversidade e, claro, gera empatia.
Ativismo atual
Hoje a missão de Cynthia é como ativista da informação, buscando levar esclarecimento sobre a acondroplasia com o intuito de acabar com estigmas e preconceitos e garantir uma vida de bem-estar, respeito e inclusão a pessoas que possuem esta condição. Ela igualmente as ajuda no caminho das informações que possam melhorar a saúde e a qualidade de vida dessas pessoas, e evitar cirurgias por vezes necessárias a quem lida com a acondroplasia/nanismo — ainda que ela mesma não esteja apta a novos tratamentos capazes de evitar cirurgias ou intervenções.
Além de presidente da Gente Pequeña em Coahuila, Cynthia é conferencista, participa como convidada de podcasts diversos e programas na mídia, sempre enfocando o direito de espaço das pessoas com deficiência. Em 2023, Cynthia foi eleita pela Forbes México como uma das cem mulheres mais influentes do país. “Sigo a minha luta para que tenhamos acesso a direitos igualitários e para que cada vez mais pessoas com deficiência possam ter espaço na sociedade e qualidade de vida. Não quero que esse movimento de inclusão seja apenas uma moda. Precisa ser a realidade”, comenta Cynthia.
Infância, preconceito e desinformação social
A vida de uma pessoa com acondroplasia não é fácil, não é necessário salientar mais do que o óbvio que se apresenta. Além das barreiras práticas de acesso e inclusão social, há a desinformação e o preconceito. Durante a infância, Cynthia sofreu preconceito e bullying. Mas teve o apoio e o acolhimento dos pais e irmãos (ela é a única entre os quatro filhos do casal a ter acondroplasia). Nunca foi fácil, mas a vida seguiu. Quando adulta, a intolerância também afetou e continua afetando Cynthia, que relata sofrer deboches, zombarias, e até ser motivo de risadas mal-intencionadas de pessoas na rua. Aliás, não só ela. Em 2017, Cynthia realizou um grande sonho: ser mãe. Abraham, hoje com seis anos, não possui acondroplasia, é uma criança alegre e que se orgulha da mãe, mas sofre, sim, preconceito social por conta da condição de Cynthia. Há que se mudar o mundo! E, para isso, é preciso lembrar: são de pequenas atitudes que se faz a diferença e mudança positivas.